Início » Parque Ibirapuera » O pequeno grande Parque Ibirapuera

Pelo seu tamanho e pelo tamanho da sua população, São Paulo deveria ter ao menos dez vezes mais áreas verdes do que tem atualmente. Quem sofre com os efeitos da falta de verde não é somente a população, mas também as próprias áreas verdes existentes. E o Parque Ibirapuera, entre elas. Pois dele se espera que satisfaça as exigências de um contingente enorme de usuários, que vão muito além da sua capacidade.

Esse problema é evidente nos fins de semana, quando pedestres, ciclistas e corredores disputam acirradamente as vias internas do parque; quando a Marquise – agora, com problemas – não consegue abrigar a legião de usuários que a tomam. Quem quer passear sossegado é constantemente ameaçado por patinadores e skatistas – ou atrapalha os mesmos, conforme o ponto de vista. E assim por diante.

A população espera que o Parque Ibirapuera seja tudo: praça de esportes, lugar de entretenimento, pista de ciclismo; que ofereça opções de alimentação, shows, brinquedos; estacionamento fácil; lixeiras a cada dez centímetros (pois é impossível carregar o lixo por alguns metros até encontrar uma, não é mesmo? Nem falemos em levar embora o próprio lixo, reciclar o que é reciclavel e descartar o que não se pode reciclar em lugar apropriado…). A natureza não basta. Não bastam os pássaros, as árvores, os canteiros. Aliás, eles são quase um empecilho diante de tantas exigências inconciliáveis.

O Parque Ibirapuera é, na verdade, muito pequeno para a cidade, que deveria ter outros tantos Ibirapueras espalhados nas Zonas Leste, Oeste e Norte. E foi se tornando pequeno com o passar dos anos não só por causa do crescimento da população, mas também pela redução da sua área.

Para se ter uma ideia da sua “pequenês” e, portanto, da sua dificuldade – para não dizer impossibilidade – de satisfazer tantas exigências, basta comparar uma fotografia aérea de 1958, quatro anos depois da sua inauguração, com outra mais recente. Na fotografia de 1958, vê-se uma cobertura arbórea inferior à de hoje, em parte porque a vegetação ainda precisava crescer. Com clareza, distinguem-se as áreas com os eucaliptos australianos, plantados décadas antes por Manequinho Lopes para drenar o terreno alagadiço em que, já na década de 1920, tinha-se decidido criar o parque. Essas áreas são o triângulo situado entre a rua Abílio Soares e a Avenida Pedro Álvares Cabral e a faixa entre a avenida República do Líbano, o Monumento às Bandeiras e o lago.

Imagem área com o Parque Ibirapuera, 1958. Fonte: Geoportal Memória Paulista.

A fotografia ainda mostra, entre outras coisas, o pavilhão onde, por muitos anos, foi realizada a UD, Feira de Utilidades Domésticas (embaixo, à esquerda) e a grande área com um lago entre a rua Manoel da Nóbrega, a rua Abílio Soares e o Ginásio do Ibirapuera.

Se, de um lado, na fotografia aérea mais recente, podemos notar com satisfação o aumento da cobertura arbórea, especialmente ao longo do Córrego do Sapateiro e em volta da Praça da Paz, onde a eliminação do pavilhão da UD deu mais espaço ao verde, por outro lado constatamos o desaparecimento dramático de uma área equivalente a cerca de um quinto do inteiro parque. Trata-se da área (na parte esquerda da imagem) ocupada pela Assembleia Legislativa e o Segundo QG do Exército, com seus respectivos áridos estacionamentos, à qual soma-se o terreno cedido por comodato ao Clube Círculo Militar.

Fotografia aérea do Parque Ibirapuera de 2013. Autor não identificado.

O que se constata é que, desde o ano da sua inauguração, ao mesmo tempo em que a população de São Paulo e a ocupação urbana cresciam vertiginosamente, o Parque Ibirapuera encolheu consideravelmente. Hoje, ele está sob pressão, pois, de um modo geral, as áreas verdes na cidade diminuíram e exige-se dele que desempenhe o papel de um parque infinitamente maior ou de um conjunto de vários parques da sua dimensão.

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