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Baependi. O nome parece sair de um conto de João Guimarães Rosa. Mas não. Não é uma localidade de Grande Sertão: Veredas ou dos contos de Tutaméia. Fica no sul de Minas Gerais ao lado do município de Caxambu, em pleno Circuito das Águas, uma região rica de fontes de água mineral, entre outras coisas.

Agora, exatamente na divisa de Baependi com Caxambu, querem construir um gigantesco aterro sanitário – um lixão –, cujo impacto, por exemplo, para as águas minerais de Caxambu e, por conseguinte, para o seu histórico Parque das Águas e para a cidade como um todo, pode ser nefasto.

Caxambu (MG), Parque das Águas. Foto: Rafael Siqueira.

O Brasil enlouqueceu? Um dos deveres dos governos federal, estadual e municipal é zelar pela saúde e bem estar da população, mas parece que ocorre exatamente o contrário. Precisamos nos perguntar: por que em Baependi? qual será o impacto para a região? e para onde irão os benefícios econômicos de tal empreendimento?

Um lixão é um perigo enorme para o lençol freático e, numa região cuja riqueza é a água mineral, seria o pior investimento a ser feito para as populações e economia locais. E sabemos muito bem o que acontece nesse tipo de empreendimento: os dividendos migram para outros paradeiros e a população fica com o ônus da destruição. Os exemplos recentes das barragens de dejetos de Mariana e Brumadinho, infelizmente, não deixam dúvida alguma sobre isso.

Esses empreendimentos não geram verdadeira riqueza para a população local. Ao contrário, devastam o meio ambiente e, a médio e longo prazo, só geram degradação socioambiental.

Mas por que falamos sobre isso nas páginas da Revista do Ibirapuera? Porque é uma face da mesma moeda da iniciativa de concessão dos parques municipais de São Paulo e, entre eles, o Parque Ibirapuera. Com a desculpa da desoneração, a prefeitura quer dar os parques municipais, que são patrimônio da população e não bem de comércio, para a exploração comercial predatória, sem nem mesmo um plano diretor que proteja o seu interesse público e a sua flora e fauna; e que, ainda, garanta os seus preciosos serviços socioambientais para a população.

Os envelopes dos candidatos à concessão do Parque Ibirapuera foram abertos e, graças a uma ação popular, a concessão foi suspensa por seis meses, para que todos os problemas e irregularidades do edital – que não cansamos de apontar em um ano e meio e dos quais a prefeitura tinha perfeita consciência, mas ignorou para não “espantar” investidores – sejam resolvidos.

Resta o gosto amargo de saber que a prefeitura, ao invés de zelar pela saúde e bem estar da população, tem tentado por todos os meios entregar às pressas e sem rigor algum os parques para a exploração comercial, passando por cima dos interesses da própria população.

O descaso com o meioambiente que o poder público tem mostrado ao redor do país é, sim, um sintoma de loucura – a loucura de destruir um patrimônio natural insubstituível em favor de investimentos cujos lucros nem sequer beneficiam realmente as comunidades locais.

Para saber mais sobre o estado da concessão do Parque Ibirapuera, leia:

Concessão suspensa

Os conflitos de interesse do edital de concessão do Parque Ibirapuera

Para saber sobre o caso de Baependi veja:

AH, É? ME PASSOU!

 

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