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Infraestrutura Verde: novo modelo para o século XXI?

por José Antonio Hoyuela Jayo

As cidades globais, na nossa era, perderam a consciência da importância dos ecossistemas naturais para a produção de alimentos, regulação da atmosfera e do clima, purificação da água, fornecimento de matérias-primas, proteção contra pragas, doenças e condições meteorológicas extremas, e, enfim, para o estímulo e a realização cultural, espiritual e intelectual, que incide positivamente na nossa saúde.

O Parque de Ibirapuera, em São Paulo, está sujeito a uma grande pressão ambiental, social e econômica derivada de seu caráter central e estratégico. Foto; Antonio Hoyuela Jayo.

Isso produz grandes impactos recorrentes, como perda na qualidade de vida e da biodiversidade; diminuição da qualidade do ar, das águas, dos solos e dos habitats; enchentes, deslizamentos, estresse humano, animal e ambiental; engarrafamentos, perda de eficiência do sistema urbano e alto consumo de materiais, tempo e energia. São Paulo lidera esse cenário negativo pela sua dimensão e pelas politicas focadas no automóvel e no imobiliário.

Nesses dias, em Barcelona, está acontecendo o Segundo Congresso Internacional de Paisagem Urbana. O primeiro foi realizado em São Paulo em 2015. Nele, desenvolvem-se objetivos da agenda urbana surgida no Congresso de Habitat III. Os desafios são grandes: reconhecer a paisagem, a partir de uma perspectiva holística e integradora, não só os espaços mais relevantes; tornar a paisagem urbana um dos focos na agenda da ONU; promover a paisagem como centro das políticas públicas, especialmente as municipais; fomentar a participação pública através de processos informativos, de plataformas digitais, de redes sociais e de ferramentas que permitam conhecer o desenvolvimento da estrutura urbana; difundir a ideia de que a cidade é dos cidadãos, e não dos carros – e , portanto, difundir os valores da ética, da beleza, da percepção, em oposição às cidades pensadas para carros ou exclusivamente a partir conceitos de produtividade e exploração dos recursos.

Decididamente, o congresso que acontece esses dias em Barcelona quer passar do pensamento à ação; reconhecer e apoiar o papel da sociedade civil e dos incentivos privados (coprodução urbana); procurar um argumento que nos permita chegar aos governos, focalizar na paisagem urbana, na pele das cidades, no cotidiano do nosso ambiente, como objeto de nossos desvelos.

Cidades espanholas como Vitoria, Zaragoza ou Barcelona já estão planejando sua infraestrutura verde como base do seu modelo urbano. O Parque de Salburua, em Vitoria, tem sido incluído na rede europeia de humedais, Ramsar, e na rede Natura (tipo o SNUC brasileiro). O anel verde tem 727 has., a superfície total prevista é de 993 has., os parques atuais, mais de 10, entre os quais Armentia, Olarizu, Salburua, Zabalgana, Zadorra y Errekaleor, já dispõem de 79 km de itinerarios pedestres e ciclovias. Fonte: Infraestrutura Verde da prefeitura de Vitoria.

Assim, deveríamos colocar a “infraestrutura verde” em foco, recuperando a natureza (elementos, processos e ecossistemas) para nossas vidas e para nossos entornos e ambientes imediatos. Muitas definições de Infraestrutura verde já foram desenvolvidas. Por isso, é difícil cobrir todos os aspectos em uma só. Para os redatores do Projeto da Infraestrutura Verde (IV) da Austrália Meridional[1], a

“infraestrutura verde está formada pela rede de espaços verdes e azuis (sistemas naturais e artificiais das águas), que proporcionam múltiplos valores e benefícios ambientais, econômicos e sociais, chamados de serviços ecológicos.

Os benefícios acontecem nos assentamentos urbanos e também no âmbito rural. Ela nos ajuda a compreender e usufruir o valor dos benefícios que a natureza fornece para a sociedade humana; e também para mobilizar investimentos para mantê-los e melhorá-los.

Várias cidades, no mundo, já tornaram a infraestrutura uma prioridade das políticas voltadas para o espaço público, tais como Bruxelas, Chicago, Ontario, Hamburgo, Berlim, Ottawa, Londres ou Portland. Fonte: sites das próprias prefeituras.

A infraestrutura verde inclui parques e reservas naturais, quintais e jardins, vias navegáveis e zonas húmidas; vias, ruas e corredores de transporte, verdes ou ecológicos; alamedas, terreiros, praças e adros verdes; coberturas verdes, jardins verticais e muros vivos; campos esportivos, ruas arborizadas e cemitérios[2]. Em síntese, podemos dizer que

“a infraestrutura verde é uma ferramenta, instrumento ou modelo que fornece benefícios ecológicos, econômicos e sociais através de elementos e soluções naturais” (Herzog, 2011).

A infraestrutura verde pode prestar serviços como a manutenção do ar puro, o controle da temperatura e a atenuação do efeito local de «ilha térmica». Ela pode gerar um número maior de áreas de lazer, melhorar a proteção contra inundações, fomentar a retenção da água da chuva, a prevenção das enchentes – manutendo os níveis das águas subterrâneas. Ela contribui para a restauração ou interrupção da perda de biodiversidade, para a moderação das condições climáticas extremas e dos seus impactos, além de melhorar a saúde dos cidadãos e a qualidade de vida em geral, disponibilizando inclusive áreas acessíveis e de baixo custo para a atividade física. A infraestrutura verde, com seus serviços ecológicos, destaca a relação entre a natureza e seus processos com a saúde pública, e considera que o investimento na paisagem urbana também é um investimento na saúde pública. Por isso, no 2º Congresso Internacional da Paisagem Urbana, reivindicamos com firmeza que a Infraestrutura Verde se torne um paradigma de intervenção na cidade do século XXI.

Notas:

[1] The Green Infrastructure Project is a partnership between Department of Environment, Water and Natural Resources; Department of Planning, Transport and Infrastructure; Botanic Gardens of South Australia; Natural Resources, Adelaide and Mount Lofty Ranges; and Renewal SA.

[2] Secretaria de Meio Ambiente, Água e Recursos Naturais; Departamento de Planejamento, Transportes e Infraestrutura; Jardim Botânico da Austrália Meridional; Recursos Naturais, Adelaide e Monte Lofty Ranges; e Renovação SA, 2016

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