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DIGAM ADEUS AO PARQUE DO IBIRAPUERA

por Mateus Muradas

Hoje, dia 21 de agosto de 2019, o povo paulistano deveria estar comemorando os 65 anos do Parque do Ibirapuera, mas infelizmente, não há nada o que comemorar. Após um amplo debate da sociedade paulistana durante quase 30 anos (de 1926 até 1954), vários projetos foram apresentados para o parque, que foi finalmente inaugurado em 1954. Um projeto que objetivava ser um dos principais cartões postais do Brasil, mostrar um país jovem, futurista e moderno. Em 2019, infelizmente, a discussão sobre o Parque do Ibirapuera tomou outro rumo, o que se discute é dinheiro.

Parque Ibirapuera. Foto: Marco Domicio.

Em 2016, Doria ganhou a eleição municipal e sua plataforma principal de governo eram as privatizações ou as “concessões”. Um dos principais ativos do município que entrou no pacote foi o nosso querido Parque do Ibirapuera. Com a máxima de “gestor e não político”, Doria impôs ao município de São Paulo não um projeto de cidade, mas um plano de negócios…

Nesses três anos de governo, para “acelerar” o loteamento dos ativos da cidade, Doria limitou o poder dos conselhos participativos de parques, excluiu a população da discussão sobre a concessão do Ibirapuera e abandonou a prefeitura para se candidatar ao governo do estado. Hoje, após uma ação no Ministério Público, o atual prefeito Bruno Covas foi obrigado a fazer um “plano diretor” para o parque. Esse plano traria maior sustentabilidade à concessão, impondo limites a concessionárias e promovendo mais participação popular no processo.

O que está acontecendo é o avesso de participação popular, é o avesso de um cuidado técnico cientifico em relação ao parque, desviando claramente o seu objetivo. Na calada da noite, no dia 1 de agosto, a prefeitura disponibilizou para consulta pública o tal “plano diretor”, dando à população 25 dias para o questionar. Em resumo, montou-se um “teatro” para agradar o Ministério Público e eliminar qualquer discussão séria e comprometida com o futuro do parque.

A estratégia da prefeitura não deu certo! A população se mobilizou através do FÓRUM VERDE PERMANENTE, que tem marcado firme presença nas audiências públicas. Sem nenhuma escandalização ou apelo populista, este fórum agrega, além de ativistas da cidade toda, acadêmicos da área de Biologia, Arquitetura, Turismo, Sociologia, História, entre outros, que foram objetivos em suas colocações. O Plano Diretor do Parque do Ibirapuera está enviesado tecnicamente, não tem compromisso com o meio ambiente e abre precedentes para o fim dos serviços ambientais prestados pelo parque.

Vários pontos falhos foram identificados no plano, mas o principal é a maneira com que a prefeitura está conduzindo o processo participativo – com apressada e sem o cuidado que o Parque merece. Nenhuma universidade foi convidada, nenhuma instituição de saúde, organização cultural, esportiva e ambiental foi incluída a emitir pareceres sobre o plano. Mais do que isso, o processo foi iniciado pela SP PARCERIAS e não pela Secretaria do Verde. Sequer os técnicos e funcionários da Secretaria do Verde e Meio Ambiente estavam integrados na discussão do Plano do Parque do Ibirapuera…

Essa falta de critério, esse desrespeito pela população e esse desleixo em relação ao parque não poderiam culminar em nada mais do que um péssimo plano para o Parque do Ibirapuera. Gastaram-se recursos públicos, mobilizando técnicos e consultores independentes para se tentar enganar a população e o ministério Público e não para, efetivamente, criar um plano rigoroso e de longo prazo para o parque.

É impossível, em apenas um mês de consulta pública, coletar material suficiente e tecnicamente correto, para se definir um plano diretor. Foi feito um documento apenas para atender a uma demanda judicial. Nosso parque está sendo loteado e não teremos qualquer garantia de controle e participação no futuro.

Essa falta de clareza nos faz concluir que nosso parque está com os dias contados. O Parque está se transformando num clube privado, sem finalidade pública, sem responsabilidade ambiental e longe dos interesses dos paulistanos. É lamentável que um parque tão importante tenha esse fim e se torne um “shopping a céu aberto”. É urgente exigir do poder público que conduza a elaboração do plano diretor com um critério mais claro, com mais tempo para a consulta pública e que, de fato, norteie os próximos anos do parque. O que temos hoje é um atestado de óbito do Parque do Ibirapuera. Digam adeus a nosso parque ou lutem em sua defesa.

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