Os Volpis no MAC

por Redação

De 31 de agosto/13 a 2 de março/2014, confira a exposição “Os Volpis do MAC”. Os 18 Volpis da coleção do MAC juntos para você.

volpi

Texto do MAC, vide site:

O também artista plástico Paulo Pasta, curador da exposição, selecionou 18 obras de Alfredo Volpi que pertencem à coleção do MAC USP. Para ele, as obras de Volpí na coleção “representam a passagem da natureza, do figurativo, para as formas, os esquemas figurados do real, em uma transformação muito sofisticada”.

Abaixo, trechos da depoimento de Paulo Pasta de 5 de agosto de 2013:

(…) Volpi foi um artista muito peculiar, muito especial, e isto por vários motivos. Ele era muito centrado, muito voltado para si. Como quase todos os pintores, ele queria buscar nele sua verdade, sua resposta. Parece-me que essa verdade estaria também posta na maneira de articular suas origens, no modo como processou a influência da arte italiana – presente desde sempre na sua carreira – juntamente com o fato de ter sempre os pés fincados no Brasil e na sua arte. Arte popular inclusive. Junte-se a isso, seu talento incrível, tanto para elaborar formas que respondessem a esses chamados, como para a cor, talvez seu grande atributo. (…) Ele mantém uma qualidade inalterável em toda sua produção. E isso, em nosso país, não é muito comum. Eu, particularmente, gosto de todo o seu trabalho. (…) Ele possuía um olho infernal, excepcional. A inteligência visual que sua obra revela, compensa (e muito!) a escassez de suas palavras. Se pegarmos o seu trabalho, um livro, por exemplo, e olharmos em sequência temporal, percebemos que as soluções por ele encontradas obedecem a uma poderosa organização interna de seus temas: ele sempre encontra a melhor equação para as questões que seu trabalho vai desdobrando (…)

(…) Volpi é um pintor ao mesmo tempo de contraste de cor e de tonalidades. Podemos notar isso em várias de suas obras. Muitas das composições de “bandeirinhas” possuem essa qualidade. Enquanto algumas bandeirinhas sustentam o contraste, outras são tonalizadas a partir da mesma cor. Volpi parece querer unir Matisse, seu pintor preferido, com Morandi, menos citado por ele, mas de visível influência em muitas de suas obras. Aliás, esse aspecto que sua pintura tem de querer unir diferenças também é muito “matisseano”. Algo parecido com buscar harmonia, criar beleza. (…) Me identifico muito com Volpi também na maneira como ele trata a forma. Parece-me que no seu trabalho, forma nasce de forma, como se a próxima pintura nascesse das descobertas da pintura anterior. Ele desdobra seus temas, habitando-os longamente. E também faz isso com a cor, uma vez que usa esta também para construir o espaço. Muitas vezes ele pinta o mesmo assunto, só elaborando, como mudança, uma permuta com as cores. E é sempre uma pintura nova. Suas formas são, como as cores, também reversíveis: o que está tratado como presença em uma área do quadro, na outra, aparece como vazio, ausência. Aborda de maneira igualmente ambígua também a figura e o fundo. Suas composições simétricas são corroídas quando esse espelhamento é atraiçoado por uma sutil assimetria. Dessa maneira, eu penso, Volpi consegue triunfar sobre esse oco que persegue todo o pintor, que é justamente o que pintar. (…) Sua pintura parece não demandar muito esforço. Ela responde a um sistema ágil, fluido, clarividente. Arrisco dizer – e me reservo o direito de ser uma bobagem – que Volpi tem a pintura menos neurótica que eu conheço (…)

(…) A coleção de Volpis, do MAC USP, é muita representativa justamente dessa passagem da natureza, do figurativo, para as formas, os esquemas figurados do real. Da figuração para a figura plana, se posso dizer assim. Ela flagra esse momento no qual Volpi conquista a autonomia do plano. Isso é muito visível nas paisagens e casarios de Itanhaém e Mogi das Cruzes, cidades que foram importantes para a construção do seu imaginário. Essa passagem a que me referi se dá entre o final da década de quarenta e início da década de cinquenta.
E essa transformação é muito sofisticada. Primeiro ele abandona a tinta óleo pela têmpera, e, a partir disso, vai também modificando a maneira como trata o real. Parece que junto da simplificação da tinta, suas formas também se simplificam. Passam por um processo semelhante de depuração, tornam-se mais esquemáticas, abstratas, planares. Penso que Volpi, com esse movimento, cria uma espécie de evasão para o cotidiano. Nesse sentido, lembro-me muito de Manuel Bandeira, que fez deslocamento parecido, voltando muito seus conteúdos para a experiência comum, cotidiana, e fez isso não só pelos temas, mas principalmente pela forma. Aliás, penso que boa parte do modernismo brasileiro fez esse deslocamento. E Volpi fez isso em pintura de maneira, como disse, muito sofisticada, o que mostra também como ele foi um artista que não esqueceu seu tempo, as questões da sua época (…)

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